domingo, 29 de maio de 2016

O Brasil criativo, uma alternativa econômica



Economia criativa: a chave para ativar um futuro abundante
A Economia Criativa muitas vezes é limitada à criatividade ou produção artística, quando na verdade representa um universo de possibilidades de criação a partir de recursos intangíveis e abundantes.
Alonso Neto, 4 de maio de 2016
iStock 

Um conceito muitas vezes incompreendido e com enorme potencial de transformação.




Assim é a Economia Criativa, termo comumente associado à criatividade e à produção cultural, mas que representa um universo infinitamente amplo de oportunidades e geração de riquezas.

O fato é que a Economia Criativa é muito mais do que soluções criativas e produção cultural, e este é o ponto chave para entendê-la.

Ainda hoje o termo não é definido de forma unânime e apresenta diferentes entendimentos ao redor do mundo, apesar de que não há dúvidas que o cerne de seu significado pode ser compreendido como a geração de valor a partir de recursos intangíveis como o conhecimento, a criatividade, o capital intelectual, o talento individual e a inteligência coletiva.

Economia Criativa é um processo que gera valor a partir de recursos intangíveis, realizado por um ecossistema diverso.” Lala Deheinzelin

Ao contrário da indústria tradicional que entrega produtos e serviços acabados, a Economia Criativa é um processo que foca no potencial individual ou coletivo para produzir bens e serviços, tangíveis ou intangíveis, gerando valor para as partes envolvidas.

A ORIGEM DO TERMO
O conceito de “indústria criativa”, origem da Economia Criativa, surgiu na Austrália em 1994 quando em um discurso chamado “Creative Nation”, o Primeiro-Ministro australiano Paul Keating preocupava-se em como aproveitar as oportunidades geradas pela globalização e pelas mídias digitais como forma de potencializar a economia do país e contribuir para o desenvolvimento da nação a partir de sua identidade cultural, e deste pressuposto lançou um conjunto de políticas públicas baseadas na produção cultural e artística.

“The level of our creativity substantially determines our ability to adapt to new economic imperatives. It is a valuable export in itself and an essential accompaniment to the export of other commodities. It attracts tourists and students. It is essential to our economic success.” Paul Keating

Em 1997, a ideia de indústrias criativas ganhou força na Inglaterra quando o Primeiro-Ministro Tony Blair criou uma força-tarefa multissetorial entre governo, empresas e criadores para estudar as riquezas culturais do país e criar vantagens competitivas no cenário global. Assim, desenvolveu-se uma forte indústria cultural que abriu caminho para o desenvolvimento e envolvimento com outras áreas a partir dos valores culturais presentes na nação.

Dessa forma, Austrália e Inglaterra foram os primeiros países a utilizarem deliberadamente o potencial cultural e criativo de suas nações através de políticas públicas para gerarem valor econômico, e hoje lideram as estatísticas em Economia Criativa.

“Difícil medir seu potencial multiplicador, mas o que se percebe é que cada vez mais cresce em todo mundo sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) da maioria dos países. E, nesta época de grande competitividade, a criatividade – mola-mestra da cultura – é o grande diferencial das atividades do mundo moderno. Ela gera inovação, novos formatos dos produtos, novas aplicações, novos públicos e novas linguagens. E pelo seu caráter de transversalidade, exerce uma função integradora entre os setores (público, privado, terceiro setor, instituições de ensino etc.) que compõem o leque de construção do desenvolvimento de um país. Dayse Maria Oslegher Lemos

A CULTURA COMO PONTO DE PARTIDA
Hoje, o conceito evoluiu e vai além da produção cultural e artística.

Na verdade, o próprio conceito de cultura foi ofuscado, pois é geralmente reduzido apenas ao entretenimento e belas artes, quando a cultura é a matriz, o DNA da sociedade.

Segundo uma das maiores autoridades em Economia Criativa no Brasil, a futurista e fluxonomista Lala Deheinzelin, cultura é tudo aquilo que cria, e portanto transforma, mentalidades (o jeito de pensar) e hábitos (o jeito de fazer)”.

A questão é que a Economia Criativa não é apenas geração de valor cultural e artístico. Mas, de fato, o seu ponto de partida é a cultura. Assim é possível dizer que a matéria-prima da Economia Criativa são recursos intangíveis.

Se hoje vivemos uma realidade de competição, baseada em recursos tangíveis como petróleo, terra e aço, e que se tornam escassos com o consumo, ao contrário, os recursos intangíveis como conhecimento, cultura e experiência são infinitos e se multiplicam com o uso, podendo gerar uma economia de abundância.

Dessa forma a Economia Criativa pode ser entendida como a semente para ativar e criar valor a partir de recursos intangíveis.

A NATUREZA DA ECONOMIA CRIATIVA
A Economia Criativa é exponencial, uma vez que os recursos se multiplicam com o uso, e pode ser potencializada a partir da sinergia com outras áreas. A cada etapa do processo de criação mais valor é adicionado, já que mais patrimônios intangíveis são ativados. Quanto mais “camadas” adicionadas, maior é o valor final.

Assim, a natureza da Economia Criativa é a integração de diferentes áreas e pessoas, contribuindo com seu valor intangível, para adicionar e gerar valor econômico, social, cultural e ambiental.

Se a Economia Criativa é um processo baseado na ação integrada, quanto mais diverso for o ecossistema em que o processo está inserido, maior o seu potencial.

“A economia criativa consegue, portanto, por meio da agregação de traços de outros conceitos, um toque próprio e inovador. Da economia da experiência, reconhece o valor da originalidade, dos processos colaborativos e da prevalência de aspectos intangíveis na geração de valor, sobretudo na cultura. Da economia do conhecimento, toma a ênfase no trinômio tecnologia, qualificação de trabalho e geração de direitos de propriedade intelectual. E, da economia da cultura, propõe a valorização da autenticidade e do intangível cultural único e inimitável.”

NOVA ERA
Hoje vivemos uma era pós-industrial, a economia da experiência.

Já passamos pela sociedade agrícola, sociedade industrial, era da informação e hoje chegamos à era da emoção, da colaboração.

Mesmo com base na Economia Colaborativa, não basta somente entregar produtos e serviços eficientes e de qualidade, é preciso proporcionar experiências, gerar emoção.
“Nossos desejos pessoais estão mudando, assim como nosso sentimento de realização, de colaboração e a forma como nos relacionamos. Como resultado dessa transformação, a economia também está mudando. Seu foco passa de produtos para serviços, de commodities para experiências e de preços fixos para descontos e, até, para o gratuito”. John Howkins

Se antes o intangível era importante, no futuro vai ser mais ainda.

E este é mais um desafio e também uma oportunidade da Economia Criativa. Gerar experiências a partir do intangível. Atividades que geram emoção, que envolvam o usuário, que se baseiam na experiência para gerar valor.

A diferença está na experiência.

E ir além da experiência, contar histórias, tornar visível, criar narrativas.

CARÁTER ESTRATÉGICO E OPORTUNIDADES
A Economia Criativa é muito ampla e permite identificar nichos e criar demandas, principalmente em um momento de transição.

É a base para o desenvolvimento de iniciativas de diversas natureza.

Sob a ótica do empreendedorismo, a Economia Criativa apresenta grandes oportunidades. Baixas barreiras de entrada, novos mercados, novas demandas, e pouca exigência de capital financeiro, mas muito em capital intelectual.

A tecnologia também é um fator que favorece quem deseja empreender pois dá acesso à informação, amplia os mercados e conecta os negócios com os usuários.
Olhando para o futuro, a Economia Criativa é estratégica pois pode ser uma alternativa a uma crise mundial de paradigmas, crise financeira e de sustentabilidade, que exigem novos modelos de desenvolvimento que considerem nossa interdependência.

Além disso, ela se baseia em recursos infinitos e que são abundantes mesmo em países subdesenvolvidos e emergentes, e em atividades que tem simultaneamente impactos simbólicos, financeiros, sociais e ambientais.

A Economia Criativa também é importante para a economia de um país pois é um setor com enorme potencial de crescimento e que pode se tornar um diferencial competitivo. Pode ser também a base de uma economia saudável, sendo fator estratégico para pequenas e médias empresas, e também gerando valor e riqueza para as classes mais pobres.

Para o desenvolvimento local, a Economia Criativa é estratégica pois é um fator chave nos processos de revitalização e qualificação de espaços urbanos e rurais, além de reduzir índices de violência e proporcionar desenvolvimento a partir de experiências com o turismo e entretenimento.

Do ponto de vista social e educativo, a Economia Criativa é importante pois qualifica o capital humano e promove o capital social, já que eleva a autoestima e confiança, possibilitando o desenvolvimento de competências essenciais como a cooperação,criatividade, inovação e adaptabilidade.

A Economia Criativa também é estratégica do ponto de vista do trabalho, pois gera emprego e renda através de uma nova forma de trabalhar, e mais do que isso, impacta profissionalmente outras atividades econômicas, promovendo a evolução através de negócios mais criativos, inovadores e que se apoiam em bases culturais.

“Além dos benefícios econômicos, a economia criativa também contribui significativamente para o desenvolvimento social. Seu potencial para gerar bem-estar, autoestima e qualidade de vida em indivíduos e comunidades, por meio de atividades prazerosas e representativas das características de cada localidade, estimula o crescimento inclusivo e sustentável”. Relatório de Economia Criativa 2013

Portanto, o novo paradigma da Economia Criativa se refere a gerar bem comum, gerar trabalho e renda, inclusão social e produtiva, potencializar terceiro setor e economia solidária, diversidade cultural, uso de novas tecnologias, novos modelos de gestão, novas linguagens, e principalmente desenvolvimento sustentável da sociedade.

A CHAVE PARA O FUTURO
Muito mais que criatividade e economia, a Economia Criativa é sobre utilizar recursos que todos nós possuímos, inteligência, cultura, criatividade, colaboração para gerar valor, riqueza e experiências únicas.

E este é o grande segredo, o grande desafio.

Usar o potencial de criação humano para conectar experiências únicas a um nicho que a demande e gerar valor nas dimensões cultural, ambiental, social e financeira.

Difícil mas não impossível.

Descobrir qual seu talento único, dar visibilidade, criar um ecossistema, identificar seu nicho, contar histórias, criar experiências e entregar valor são os passos para utilizar a Economia Criativa a seu favor.

Confiar, cuidar e cocriar são o caminho.

A Economia Criativa é uma das chaves do futuro e da sustentabilidade.
É a pedra fundamental de criar os futuros desejáveis.


sábado, 14 de maio de 2016

Ainda o ZIKA VIRUS



Ser mãe de uma criança com microcefalia
Escrito por João Paulo Guma
8 May 2016 // 04:42 PM CET






 
Toda semana, a avó Leilane Serafim, 52, e a mãe de Raquel de Souza, 19, percorrem a distância de 87 quilômetros que separa Limoeiro, no interior de Pernambuco, e Recife, a capital, para continuar o tratamento da pequena Maria Alice, de apenas 8 meses. Diagnosticada com microcefalia ao nascer, a garota recebe os tratamentos no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira, o Imip, no bairro dos Coelhos.

A jornada não é fácil. Com o pai da criança preso por tráfico, a família conta com ajuda de amigos e vizinhos enquanto aguarda a análise do Benefício de Proteção Continuada (BPC) que lhes daria um acréscimo na de um salário mínimo por mês, pago pelo governo. “Se não fosse o transporte oferecido pela prefeitura e as doações que recebemos, não sei como a gente faria”, conta Dona Leilane. É ela quem tem o único rendimento fixo, vindo do Bolsa Família, que serve para sustentar a filha, deficiente auditiva, e a neta. “Demos entrada pra receber o benefício do governo, mas até agora não recebemos resposta.”

O caso da família da pequena Maria Alice não é isolado. Em Pernambuco, segundo a Secretaria de Saúde, foram notificadas 1.912 suspeitas de casos de microcefalia no período entre agosto de 2015 e abril de 2016. Dentre estes, 803 atendem aos parâmetros da OMS para a malformação. É o estado brasileiro com mais confirmações. No total, são quase mil mulheres no estado que comemorarão seu primeiro dia das mães com seus bebês especiais.


 
 A avó Leilane, a mãe Raquel e a pequena Maria Alice em atendimento no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira, o Imip. Crédito: Fernanda Costa

Se a maternidade já é um grande desafio, ser mãe de uma criança com microcefalia é uma missão bem mais delicada. Além dos cuidados que qualquer bebê necessita, vive-se uma rotina exaustiva de exames, consultas e tratamentos médicos — desde fisioterapia até exercícios para desenvolvimento visual e auditivo. Por definição, a microcefalia não é uma doença, mas sim uma condição do bebê que apresenta cabeça menor do que o normal de 32 centímetros. Em um caso de microcefalia comum, a criança apresenta algumas limitações cognitivas; já nos casos de zika, as sequelas neurológicas são muito mais graves — que ainda precisam ser estudadas de perto pela medicina. A situação das mães piora devido ao fator econômico: mais da metade dessas famílias são de baixa renda e grande parte delas vive no interior do estado, longe de hospitais capazes de atender as crianças.

Segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude do estado, 58% das notificações envolvem mães inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais e, desse total, 78% são de famílias com renda per capita de até R$ 47,00, consideradas de extrema pobreza.

"Estamos falando de uma porcentagem de quase 70% de pais que abandonam crianças com microcefalia e deixam as mães praticamente sozinhas num momento tão delicado"

Também de Limoeiro, Márcia Luna, de 16 anos, conta com a ajuda da mãe e apoio financeiro e afetivo do marido para levar a pequena Sofia, de 5 meses, ao Imip a cada 30 dias. Ela conta que quando descobriu que a filha era portadora da síndrome ficou incrédula, mas foi se acostumando. Hoje, exceto pelos cuidados e gastos extras, sente a mesma felicidade caso sua filha não tivesse o problema. “Gastamos mais ou menos um salário mínimo com Sofia, só com as despesas de viagem e tratamento”, conta. “É difícil, mas quando a gente vê esse sorriso dela tudo vale a pena. E meu marido dá todo o apoio e carinho para ela. Carinho até demais, chega fico com ciúmes.”

 Marcia Luna com Sofia no colo. Crédito: Fernanda Costa

Em Pernambuco, porém, há várias mulheres que têm sido abandonadas pelos companheiros após a descoberta que o(a) filho(a) do casal é portador do problema. Ao conversar com profissionais do Imip, constata-se a dificuldade dos homens em aceitar a deficiência do(a) filho(a). "Pais que abandonam os filhos nos primeiros 6, 12 meses são comuns, mas nesse caso estamos falando de uma porcentagem de quase 70% de pais que abandonam crianças com microcefalia e deixam as mães praticamente sozinhas num momento tão delicado", conta um pediatra que não quis se identificar. O médico também revela que há casos em que mães, rejeitadas e sofrendo de depressão pós-parto, acabam elas próprias rejeitando a criança ou simplesmente não a amamentando.

Outro fator que dificulta a vida das mães de crianças com microcefalia é o preconceito das pessoas, dentro e fora da própria família. Uma mãe que não quis se identificar relata que por várias vezes chorou após sair com seu filho e ouvir comentários preconceituosos. “O pior momento foi quando um grupo de evangélicos veio em minha direção eu começou a orar pelo meu filho pedindo para que tirassem o diabo da cabeça dele. Não tem diabo nenhum dentro do meu filho. Ele só nasceu diferente”, desabafa a mãe.

Para tentar amenizar essa dor, existem vários grupos de apoio às mães, dentre eles, o AMAR — Aliança de Mães e Famílias Raras. A presidente da ONG, Pollyana Dias, conta que o principal objetivo é dar acolhimento e encaminhamento, mostrar que aquele momento não é o fim, e sim o início de uma nova etapa, uma nova identidade. “Um dos principais focos da AMAR é cuidar da mãe. Cuidar de quem cuida. Muitas vezes essa mulher está despedaçada, sozinha, sem autoestima, com doenças secundárias como síndrome do pânico e depressão, desenvolvidas devido à rotina estressante de cuidadora”, explica.

 Sofia no Imip. Crédito: Fernanda Costa

Direcionado às mães de crianças com problemas raros, a AMAR dá suporte jurídico para que elas busquem os benefícios do governo, além de tratamento e medicação para os filhos por meio de parcerias. “A principal carência dessas mulheres é quase sempre de afeto, elas se sentem sozinhas. Também tenho um filho com problema raro — Pedro Henrique, hoje com 18 anos, portador da Síndrome Cri-Du-Chat — e quando ele era criança nunca me chamavam para as festas. Essas mães são quase sempre mães solitárias”, conta Pollyana.

Embora haja diferenças entre cada caso e cada família, a preocupação quanto ao futuro é o ponto em comum dessas mães. Mesmo com que expectativa de vida das pessoas com microcefalia seja semelhante à das outras, a falta de acompanhamento pode torná-las incapazes ou mesmo abreviar suas vidas. E o medo de que seus bebês não sobrevivam ou que sejam eternos dependentes é a dura realidade dessas mulheres que, talvez mais do que qualquer outra, valorizam cada dia de vida de suas crianças. 


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sábado, 7 de maio de 2016

Freud explica??



Sigmund Freud, o homem que deu significado aos sonhos,
Nascimento do pai da psicanálise completa 160 anos nesta sexta-feira e é lembrado em um 'Doodle'

 Sigmund Freud, pai da psicanálise. AP / EL PAÍS VÍDEO

Sigmund Freud, o pai da psicanálise, nasceu há exatos 160 anos. E seu nascimento não foi esquecido pelo Google, que o homenageou com um doodle nesta sexta-feira. Somos como um iceberg, do qual só se vê a ponta. Tudo o que está debaixo da água é o nosso subconsciente, um amontoado de desejos e traumas que reprimimos, mas que dão forma aos nossos sonhos. E foi o neurologista quem criou essa teoria, hoje tão aceita e, com isso, mudou a nossa forma de pensar, com conceitos como narcisismo, pulsão de morte e Complexo de Édipo. Foi uma das figuras mais polêmicas e influentes do século XX.

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Sigmund Freud nasceu em 1856 em uma cidade da República Tcheca, dentro de uma família judia que vivia grandes dificuldades econômicas, o que não lhe impediu de ingressar na Universidade de Viena, capital aonde chegou aos três anos de idade e onde viveu a maior parte de sua vida. Depois de se diplomar como médico em 1881, Freud focou seus estudos na pesquisa das propriedades anestésicas da cocaína, o que gerou a sua primeira polêmica, já que, segundo se depreende de algumas correspondências, ele acabou por provocar a dependência de um amigo que pretendia curar (e até mesmo a sua própria).

Depois de se casar com Martha Bernays, o amor de sua vida, Sigmund Freud abriu, em 1886, uma clínica particular, onde adotou o uso da hipnose no tratamento da histeria tal como havia estudado em Paris (França) e incorporou o método catártico de seu mentor Josef Breuer. Pouco a pouco, porém, acabou por abandoná-lo, substituindo-o pela associação livre e a interpretação dos sonhos, germe de uma nova maneira de entender o homem: a psicanálise.

O livro A Interpretação dos Sonhos, publicado em 1899, é a obra mais importante e mais conhecida de Freud. Nela se estabelecem as bases da psicanálise, um método terapêutico ao qual foram aderindo aos poucos vários adeptos, apesar da desconfiança que despertou em uma parte da comunidade científica, que o via como uma espécie de filósofo que repensou a natureza humana e ajudou a quebrar tabus --sobretudo sexuais--, mas não como médico. Seu objetivo era trazer para o consciente (a ponta do iceberg) todos esses pensamentos, sentimentos e desejos reprimidos do subconsciente (aquilo que está sob a água).

Além de criar seus conceitos revolucionários como inconsciente, desejo inconsciente e repressão, Sigmund Freud dividiu a mente humana em três partes: id, ego e superego. Também definiu o Eros, ou pulsão de vida, e o Tanatos, ou pulsão de morte. E desenvolveu um método psicossexual que – embora criticado por relacionar a sexualidade a conceitos como incesto, perversão e distúrbios mentais— ensejou teorias como a do Complexo de Édipo e derrubou tabus em uma sociedade ainda adoecida e reprimida.

Mesmo com ele tendo sido questionado por alguns de seus colegas, a influência de Sigmund Freud na filosofia, na política, na linguagem e na arte do século XX é inquestionável. Sem ele não seria possível entender as obras de artistas como André Breton e Salvador Dalí, ou de cineastas como Luis Buñuel, Alfred Hitchcock e Woody Allen, que, com o seu cinema, criou a imagem que temos da psicanálise: um homem contando a sua vida ao seu terapeuta no conforto de um divã.

Sigmund Freud foi uma figura controvertida até o último dia de sua vida. Em 1938, declarado inimigo do Terceiro Reich, teve de fugir para Londres. Seus livros foram queimados publicamente e suas irmãs (ele tinha cinco) morreram em campos de concentração. Ele faleceu um ano depois, vítima de um câncer do palato provocado pela dependência do tabaco. Seu médico lhe administrou três doses de morfina, e ele então submergiu, para sempre, no mar de seu próprio subconsciente. Uma pequena cratera na lua foi batizada com o seu nome.