quarta-feira, 11 de julho de 2012

Como o cérebro percebe as raças



Um campo emergente de pesquisa que pode ter implicações importantes para a sociedade tem se dedicado ao estudo de como o cérebro reage a processos e imagens de pessoas de diferentes grupos raciais. A psicóloga Elizabeth Phelps, da Universidade de Nova York, que em 2000 coordenou um dos primeiros estudos da área, fala à Nature sobre o que a sua mais recente revisão do campo revela sobre a neurociência das raças.



Um campo emergente de pesquisa que pode ter implicações importantes para a sociedade tem se dedicado ao estudo de como o cérebro reage a processos e imagens de pessoas de diferentes grupos raciais. A psicóloga Elizabeth Phelps, da Universidade de Nova York, que em 2000 coordenou um dos primeiros estudos da área, fala à Nature sobre o que a sua mais recente revisão do campo revela sobre a neurociência das raças.
P. O que a psicologia nos diz sobre as raças?
R. Os psicólogos sociais fazem uma distinção entre as atitudes que as pessoas expressam e as suas preferências implícitas. Isso pode ser feito por meio do uso de um teste de associação implícita, que mede respostas iniciais, avaliativas. Trata-se de pedir às pessoas que combinem conceitos como preto e branco com conceitos como bem e mal. O que descobrimos é que a maioria dos americanos brancos leva mais tempo para dar uma resposta que combina o preto com o bom, o branco com o mau e vice-versa. Isso revela as suas preferências implícitas.
P. O que a sua revisão da literatura da neurociência mostrou?
R. Meus colegas e eu descobrimos que existe uma rede de regiões do cérebro que é ativada de forma consistente em estudos de neuroimagem de processamento de raça. Essa rede coincide com os circuitos envolvidos na tomada de decisões e na regulação da emoção, e inclui a amígdala, a área fusiforme facial (FFA), o córtex cingulado anterior (ACC) e o córtex pré-frontal dorsolateral (CPFDL).
P. O que as suas pesquisas anteriores mostraram?
R. O nosso estudo de 2000 foi o primeiro a vincular a preferência racial à atividade do cérebro. Nós medimos o sobressalto do piscar de olhos, uma reação de reflexo que as pessoas têm quando ouvem um barulho, por exemplo. Muitos estudos têm mostrado que esse reflexo é potencializado (intensificado) quando as pessoas estão ansiosas ou na presença de algo que acham que é negativo. Descobrimos que as preferências implícitas estão correlacionados com a potencialização desse sobressalto, e que ambas estão correlacionadas com a intensidade de ativação da amígdala.
P. Como a neurociência se adequa ao modelo psicológico?
R. A atividade no FFA não surpreende, porque todos esses estudos utilizam fotos de rostos. A amígdala tem envolvimento com todas as emoções, e pode estar ligada às avaliações automáticas que fazemos quando vemos pessoas de outros grupos raciais. Achamos que o ACC e CPFDL estão envolvidos em funções mais complexas. As pessoas tendem a mostrar indícios não intencionais de preconceito racial, mesmo quando estão motivados a serem não preconceituosas, de modo que o ACC pode estar envolvido na detecção desses conflitos. Pode-se ter um viés implícito e optar por não levá-lo adiante, e o CPFDL talvez tente regular as reações emocionais que entram em conflito com os nossos objetivos e crenças igualitários.

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