Neil deGrasse Tyson: “Políticos Rejeitam a Ciência Por Causa dos Eleitores"
Escrito por
30 April 2015 // 08:00 PM CET
Divulgar a ciência e
suas conquistas e principalmente sonhos é uma forma de manter a humanidade
aberta ao novo, a criação e a desmistificação do conhecimento. Este homem faz
isto na esteira de Carl Sagan, nosso lendário companheiro de raça.
O Congresso
americano tem golpeado a ciência há anos. De acordo com o astrofísico Neil
deGrasse Tyson, chegou a hora de revidar.
Em uma ação que
alguns consideraram uma guerra à ciência, o congressista republicano Lamar
Smith, presidente do Comitê de Ciências Nacional, fez, no fim de 2014, uma
revisão agressiva das concessões distribuídas a agências como NASA, Agência de
Proteção Ambiental e Fundação Nacional de Ciências.
Desde então, o
Senado reconheceu que a mudança climática é real, mas negou que o problema
tenha sido causado pela atividade humana, atando suas mãos em relação ao
assunto. Para enfatizar o sentimento do Senado, o senador republicano Jim
Inhofe, presidente do Comitê de Meio-Ambiente e Serviços Públicos, levou uma bola de neve a um debate para provar
que o aquecimento global não passa de um boato.
É fácil achar tudo
isso bizarro e apontar o dedo para as autoridades por causa de suas visões
teimosas a respeito da ciência, mas precisamos lembrar que as pessoas em
questão foram eleitas pelos americanos. É por isso que Tyson, um dos cientistas
mais engajados dos Estados Unidos, diz que o poder é do povo. É nosso.
O Motherboard bateu
um papo com o Diretor do Hayden Planetarium (e Astrofísico Mais Sensual de acordo com a People Magazine)
para falar sobre ciência, política e como ambos vieram a estar em posições tão
opostas.
Motherboard:
Existem políticos nos EUA que ainda negam a mudança climática...
Neil deGrasse
Tyson: Eles negam a ciência em geral.
“Ciência não é uma série de tópicos.
Ciência é uma forma de ver o mundo.”
O que você pensa
sobre esses políticos que parecem não aceitar a ciência?
É constrangedor.
Mas somos uma democracia, então meu problema não é com o político. Como o
político foi eleito? As pessoas votaram nele! Então o desafio não é bem com o
político, e sim com o eleitorado. Sou educador. Me volto para o eleitorado, não
para o político.
Você é grande
defensor da educação científica e da formação de um público mais informado.
Quais tópicos importantes todos deveríamos conhecer para nos considerarmos
letrados em ciência?
Na pergunta você
assume que existe uma série de tópicos.
Espero uma lista de
prioridades ou tópicos-chave, algo assim.
Não. Sempre há uma
lista de assuntos, mas não é isso que me interessa, não é isso que faço. Dou
formas de pensar para abordar esses temas por conta própria.
Ciência não é uma
série de tópicos. Ciência é uma forma de ver o mundo, de questionar, de
explorar como você obteria respostas para as perguntas. Então você recorre aos
temas-chave e diz “céus, aquela pessoa está levantando aqueles dados, mas não é
assim que se faz!” ou “essa pessoa disse isso, mas, opa, peraí, aqueles outros
sete resultados científicos dizem outra coisa, ele está falando merda!”. Agora
pensamos o que são essas pesquisas e as relacionamos umas com as outras. É uma
forma de se pensar.
Então não vou dar
uma lista a você. Treinarei sua mente para pensar. Não vou dizer o que pensar,
nem como votar. Estou dando a você a possibilidade de interpretar o mundo ao
seu redor de formas que levem a uma análise objetivamente verdadeira.
O que você pensa
sobre esses políticos que parecem não aceitar a ciência?
É constrangedor.
Mas somos uma democracia, então meu problema não é com o político. Como o
político foi eleito? As pessoas votaram nele! Então o desafio não é bem com o
político, e sim com o eleitorado. Sou educador. Me volto para o eleitorado, não
para o político.
Você é grande
defensor da educação científica e da formação de um público mais informado.
Quais tópicos importantes todos deveríamos conhecer para nos considerarmos
letrados em ciência?
Na pergunta você
assume que existe uma série de tópicos.
Espero uma lista de
prioridades ou tópicos-chave, algo assim.
Não. Sempre há uma
lista de assuntos, mas não é isso que me interessa, não é isso que faço. Dou
formas de pensar para abordar esses temas por conta própria.
Ciência não é uma
série de tópicos. Ciência é uma forma de ver o mundo, de questionar, de
explorar como você obteria respostas para perguntas. Então você recorre aos
temas-chave e diz “céus, aquela pessoa está levantando aqueles dados, mas não é
assim que se faz!” ou “essa pessoa disse isso, mas, opa, peraí, aqueles outros
sete resultados científicos dizem outra coisa, ele está falando merda!”. Agora
pensamos o que são essas pesquisas e as relacionamos umas com as outras. É uma
forma de se pensar.
Então não vou dar
uma lista a você. Treinarei sua mente para pensar. Não vou dizer o que pensar,
nem como votar. Estou dando a você a possibilidade de interpretar o mundo ao
seu redor de formas que levem a uma análise objetivamente verdadeira.
Você diz que a NASA
é um lugar onde se criam sonhos. O percentual do orçamento federal destinado à
agência vem caindo desde 1991. O que você tem a dizer sobre isso?
Posso falar uma
coisa a você: no Século XXI, as inovações na ciência e na tecnologia serão as
principais forças das economias do futuro. Quando uma nação se pronuncia com
“não podemos investir em ciência e tecnologia” pode ser uma tradução para
“vamos ficar onde estamos para sempre”. Você manterá a pobreza. Manterá a ausência
de riqueza.
Quando as pessoas
pensam em investimentos, pensam também em retorno. A ciência tem um horizonte
de tempo maior que esse. Não dá pra falar “olha só, resolve isso aqui com a sua
ciências”. Não é assim que funciona. Exige visão. Exige mais tempo.
“As pessoas perceberão que se você
nega a ciência, interfere na capacidade de criar riqueza.”
Na II Guerra
Mundial, pesquisadores de comunicação estudavam como se comunicar com
micro-ondas ou ondas de rádio e, durante o processo, perceberam que a água
absorvia micro-ondas. O que acontece se você criar uma cavidade e transmitir
micro-ondas por ali e então colocar algo com água nessa cavidade – tipo comida?
Você pode aquecer comida assim! (Estala os dedos.)
Se você fosse
especialista em fornos e eu lhe desse um zilhão de dólares – este não é um
número de verdade, é falso, um número falso enorme – e dissesse para fazer um
forno melhor, talvez você colocasse algum tipo de isolamento nele, alguns
medidores de temperatura, melhorasse seus controles. Você nunca inventaria um forno
micro-ondas porque isso vem de outro lugar.
Ciência é uma
exploração de tudo que é desconhecido. Depois chegam os tecnólogos e dizem “ei,
dá pra eu usar isso, valeu”. É necessária esta visão. Sem ela, pode desistir.
Como você acha que
podemos reavivar essa visão e o desejo de explorar e descobrir?
No final, as
pessoas perceberão que se você nega a ciência, interfere na sua capacidade de
criar riquezas. Nos Estados Unidos, as pessoas querem saber de riqueza, de
dinheiro. Talvez não tenhamos afundado o bastante para acordamos e falarmos “minha
nossa, o que estamos fazendo? Vamos voltar pro bonde da ciência e tecnologia”.
O desafio a nossa
frente continua enorme. Estou dando duro. Por isso que tenho o programa na
rádio e o Cosmos e o Twitter e os livros. Digo, não sei quanto mais posso
fazer. Mas estou tentando.
Obrigado por tirar
um tempinho pra falar com a gente. Fico feliz que tenha conseguido no meio de
tanto.
Não há tempo
administrado. Tudo é completamente aleatório. Sinto que tudo entrará em colapso
a qualquer instante. Estive em Atlanta essa manhã e cancelaram meu voo.
Normalmente voltaria para casa com tempo o bastante para dar uma descansada,
mas isso que estou vestindo agora é o mesmo que usava no avião mais cedo.
Tradução: Thiago
“Índio” Silva