Sua
ereção matinal pode te ajudar a avaliar sua saúde
Um pênis preguiçoso pode ser sinal de um problema
mais sério.
PorGrant StoddardTraduzido
porAnanda Pieratti
Jan 22
2018, 10:10am
Tire um fio de espaguete da
panela com água fervente e o jogue na porta da sua geladeira. Se o macarrão
grudar, o espaguete está no ponto. Pegue um ovo que está na sua geladeira há
dias — ou até semanas — e o coloque num copo de água. Se ele afundar, o ovo pode
ser consumido. Pela próxima semana, dê uma olhada embaixo do seu edredom logo
depois do seu despertador tocar. Sua primeira visão do dia é, normalmente, um
pênis ereto? Se sim, Michael Reitano, um internista aposentado de Nova York,
afirma que você provavelmente não sofre de doenças cardiovasculares, diabetes,
hipertensão, distúrbios hormonais ou do sistema nervoso. Além disso, é provável
que você não esteja deprimido, obeso, dormindo mal, estressado, fumando demais
ou bebendo além da conta.
Por outro lado, Reitano diz que
um pênis que continua dormindo mesmo depois de seu dono acordar pode indicar
algum problema de saúde. Essa teoria é corroborada por pesquisas que mostram uma correlação entre
disfunção erétil e uma série de outros problemas de saúde, entre eles doenças cardiovasculares. Macarrão que não
gruda na parede — ruim. Ovo que flutua — ruim. Acordar todo dia com um pênis
flácido — um sinal que talvez mereça ser investigado. É aí que entra o Morning
Glory: o app, criado pela startup de saúde masculina Roman, permite
que você registra a rotina do seu pênis.
A Roman oferece uma plataforma na
qual usuários podem receber um diagnóstico e — caso necessário — um remédio
para impotência de forma discreta. Michael Reitano é o médico residente da
empresa, e seu filho Zachariah é um dos três co-fundadores. Zach, hoje com 26
anos, começou a sofrer com a disfunção erétil aos 17 anos, o que levou seu pai
a especular se a doença não poderia ser sinal de um problema mais grave. Ele
estava certo. Durante um ecocardiograma de estresse, um dos vários exames
ministrados pelos seus médicos, o coração de Zach parou. Por sorte, Michael
estava lá para ajudar a salvá-lo. Sua doença cardíaca foi diagnosticada e
tratada.
Essa experiência deu origem ao
aplicativo Roman. Sobre a ideia de usar ereções como um parâmetro de saúde,
Steven Lamm, diretor médico do Centro de Saúde Masculina da Universidade de
Nova York, nos EUA, e membro do conselho consultivo da Roman, diz o seguinte:
"Se eu pudesse fazer apenas uma pergunta para determinar o estado geral da
saúde de um homem, eu perguntaria se ele tem ereções matinais."
A partir dessa semana, você já não
precisa mais falar com Lamm, ou com qualquer outra pessoa, sobre o estado do
seu bilau — o aplicativo serve exatamente para isso. Nessa manhã, o aplicativo
Morning Glory me perguntou se acordei com uma ereção. Cliquei em
"sim" e fui agraciado com um gif do Shia LaBeouf aplaudindo minha
tumescência matinal. Em seguida, fui direcionado a uma tela que me encorajou a
registrar mais duas ereções matinais. Segundo Michael, três ereções seguidas é
um número muito bom e um sinal de que várias parte do seu corpo estão
funcionando como deveriam. "Quando você começa a perceber que está há
três, quatro ou cinco dias sem ter uma ereção matinal, isso significa que algo
não está certo", diz ele. "Quanto mais cedo você descobrir qual é o
problema, melhor."
A ereção matinal é, normalmente,
a última das cinco ereções noturnas que costumam acontecer durante uma noite de
sono. "Elas costumam acontecer a cada 60 ou 90 minutos e duram entre 25 e
30 minutos", diz Michael, acrescentando que mulheres também vivenciam mudanças
vaginais durante o sono REM. "Não observamos
essas quatro primeiras ereções porque estamos dormindo. A única que podemos
observar é a quinta."
Curiosamente, não sabemos ao
certo por que homens têm ereções pelas manhãs. Michael acredita que,
biologicamente, as ereções noturnas são muito importantes. "Por que nosso
corpo gastaria tanta energia para garantir que, durante uma parcela
significativa do seu sono, você esteja com uma ereção?". Sua teoria é que
o pênis estaria se exercitando, mas ele não exita em admitir que um médico, um
antropólogo e um psicólogo teriam opiniões diferentes sobre o motivo dessas
ereções.
Como já mencionei, o aplicativo é
divertido e irreverente — o que não é o tom normalmente usado quando se trata
de disfunção erétil. Em comerciais de remédios para impotência, quase sempre
misturam imagens esportivas e cinquentões atraentes de mãos dadas com suas
respectivas parceiras — ao que parece, esse tipo de imagem agrada o público da
terceira idade. Mas o aplicativo e a jovem empresa por trás dele não estão
focados em homens mais velhos. Talvez porque está cada vez mais claro que a
distância entre as agruras da adolescência e a disfunção erétil não é tão
grande quanto se imaginava. Na verdade, esses dois momentos da vida podem
coexistir.
Segundo um estudo suíço publicado em 2012, a disfunção
erétil afeta 30% dos homens jovens, enquanto um estudo italiano publicado no ano seguinte
relata que, de 439 homens com disfunção erétil, 114 (26%) tinham menos de 40
anos (em média 32 anos) e quase metade deles sofria de disfunção erétil grave.
Os autores de ambos os estudos observaram que homens jovens são menos propensos
a sofrer com outras doenças e tem, em geral, menos massa gorda e níveis mais
altos de testosterona, o que sugere que hábitos nocivos seriam a causa de sua
impotência. Esses hábitos incluem o tabagismo, uma dieta pobre em nutrientes,
sedentarismo, consumo de drogas e álcool e uma higiene do sono
insuficiente. Caso esses comportamentos sejam repensados, o paciente pode
melhorar sua performance sexual e diminuir a probabilidade de desenvolver, no
futuro, uma doença crônica tipicamente associada à disfunção erétil.
Michael diz também que um jovem
que não consegue ter ou manter uma ereção corre o risco de ficar ansioso frente
a situações sexuais, o que aumenta ainda mais o problema, criando um ciclo
vicioso que pode perdurar por anos e prejudicar não apenas suas relações
amorosas, mas também outras áreas da sua vida.
"Não se fala muito sobre os
efeitos secundários da disfunção erétil, sobretudo entre homens jovens",
lamenta Michael. "Por isso, o objetivo da nossa equipe é criar um ambiente
onde esses homens podem buscar ajuda, conseguir um diagnóstico de forma segura
e discreta e ter acesso a remédios que podem ser essenciais"
Antes do fim da minha visita ao
escritório da Roman, eu e Zach passamos por uma mesa coletiva cheia de homens
de 20 a 30 e poucos anos debruçados sobre laptops e seguimos até uma farmácia.
Lá, doses de Viagra, Levitra, Cialis e genéricos como o citrato de sildenafila
são colocados em sacolas com a logomarca da empresa e enviadas para um número
cada vez maior de clientes em caixas de papelão discretas.
No começo da minha visita, Zach
comparou a falta de ereções matinais com um aviso de "verificar o
motor", o que fez com que eu me perguntasse se vender viagra para um homem
com disfunção erétil não seria o mesmo que colocar um pedaço de fita adesiva
por cima da luzinha de injeção eletrônica.
"Pensamos nesses remédios
como uma joelheira ortopédica", diz ele. "Você não aconselharia
alguém que não consegue andar ou correr a não usar uma joelheira. É claro que
ela não resolve o problema. Mas ela pode devolver à essa pessoa algo que ela tinha
perdido". Zach acrescenta que o mesmo acontece com remédios para disfunção
erétil. Esse tratamento é caro e exige a capacidade de prever quando a
atividade sexual irá acontecer, o que não é ideal. "Mas, no fim, ele
devolve aos pacientes algo que eles tinham perdido. E acreditamos que a partir
daí, podemos tratar o problema real."
Na manhã seguinte, o aplicativo
me pergunta se tive uma ereção matinal e sou obrigado a responder
"não". Um gif de um cachorro animado derrubando blocos de madeira
ocupa minha tela e minha missão de registrar três ereções matinais consecutivas
recomeça, agora do zero.
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