Bem-Vindos à Quarta Revolução Industrial
April 17,
2015 // 11:00 AM CET
Compreendemos e partilhamos que em muito breve será
assim. Em verdade já pé assim em muitos lugares e situações. Preocupante perceber
que nosso Brasil levará ainda muito tempo para querer ser assim. Educação,
escola, loucura, liberdade e recursos. Intercambio e recepção ao novo. Itens que
faltam a esta cultura do sempre, perpetuada por nossa maioria. Como vamos viver
este amanhã? Fornecendo minérios e alimentos apenas?
São sete horas da manhã do dia 13 de abril de 2025.
Seu relógio te desperta de uma noite sem sonhos e você sai da cama na mesma
hora em que sua casa acorda. A luz do banheiro se acende e o chuveiro começa a
esquentar a água. Depois do banho, você veste uma camiseta feita sob medida.
Você checa seu celular e descobre que a bateria está prestes a acabar. Uma
janelinha na tela te informa que não há com o que se preocupar — há uma bateria
substituta à caminho. Você ouve seu carro se ligando na garagem, pronto para te
levar para a fábrica que você gerencia, onde, de acordo com seu celular, uma
das máquinas parou de funcionar. Ir até o seu trabalho se tornou um fenômeno
cada vez mais raro — na maior parte do tempo, a fábrica funciona de forma
independente.
“Que saco", você reclama enquanto o carro sai
da sua garagem. “Essas geringonças só dão trabalho."
Bem-vindo à quarta revolução industrial, onde todos
os objetos do seu dia a dia são feitos sob medida e conversam entre
si para resolver seus problemas.
É provável que a expressão "revolução
industrial" invoque memórias distantes de tediosas aulas de história do
ensino médio. Dois séculos se passaram desde que o motor à vapor inaugurou a
transição para a produção em massa, e desde então passamos por duas outras
revoluções: uma no final do século 19, baseada na energia elétrica e na divisão
do trabalho, e uma no final do século 20, causada pela ascensão da tecnologia
de informação.
Três anos atrás, os alemães previram uma quarta
revolução, que promete mudar radicalmente a forma como trabalhamos — e que
ainda por cima irá fazer com que todos seus pertences girem em torno do seu umbigo.
Crédito: Centro de Pesquisa de Inteligência
Artifiical da Alemanha, traduzido pela Industrie 4.0 Working Group
MUDANDO TUDO DE NOVO
A quarta revolução industrial, mais conhecida como
"Indústria 4.0", foi nomeada assim por um grupo liderado por
empresários, políticos e acadêmicos, que a definiram como uma forma de aumentar
a competitividade da indústria alemã por meio da inserção de "sistemas
ciber-físicos", ou CPS, aos processos industriais.
CPS é um termo genérico para todo tipo de
integração entre máquinas inteligentes e mão de obra humana. Os donos
de fábricas não estão apenas reinventando a linha de produção, mas sim criando
uma rede de máquinas que produz mais com menos erros; e tem a capacidade de
alterar seus padrões de produção de acordo com dados externos, mantendo um alto
padrão de eficiência.
Em outras palavras, a Indústria 4.0 é o equivalente
industrial da Internet das Coisas, a ideia de conectar toda sorte de objetos,
de termostatos a torradeiras, à internet.
Esse seria um "novo conceito em
produção", de acordo com o um relatório publicado em 2013 pelo
Grupo de Pesquisa da Industria 4.0, um conglomerado de industriais,
especialistas em inteligência artificial, economistas e acadêmicos.
O governo alemão apoiou a ideia, anunciando que o
país iria adotar uma "Estratégia De Tecnologia de Ponta" para se
preparar para o futuro.
Essa nova abordagem não está ganhando popularidade
apenas na Alemanha; muitos países estão voltando seus olhos para a iniciativa.
Os Estados Unidos, por exemplo, não demorou para seguir os passos da Alemanha e
criou uma organização sem fins lucrativos voltada para o tema, o
Consórcio de Internet
Industrial, em
2014. A organização conta com gigantes como a General Electric, a AT&T, a
IBM, e a Intel.
Muitas fábricas gastam enormes
quantidades de energia durante as pausas na produção, que ocorrem em
fins-de-semana e feriados, algo que poderia ser evitado com o advento das
fábricas inteligentes
Embora a Indústria 4.0 tenha se tornado um tema de
debate na Alemanha, o significado exato do termo ainda é um tanto confuso.
“Embora a Indústria 4.0 seja um dos temas mais
discutidos atualmente, eu não consegui explicar seu significado para meu
filho", disse um coordenador de produção da Audi citado em um relatório lançado no ano passado.
Crédito: Industrie 4.0 Working Group
E O QUE SERIA A INDÚSTRIA
4.0?
Um dos aspectos mais tangíveis da quarta revolução
industrial é a ideia de um "design voltado para o consumidor". Isso
significa que os consumidores irão usar as fábricas para criar seus próprios
produtos, e que as empresas irão fabricar produtos personalizados para cada
consumidor.
O potencial desse novo modelo de produção é imenso.
Por exemplo, a comunicação entre os produtos inteligentes conectados à Internet
das Coisas e as máquinas que os produzem — que utilizam o que a General
Electric chama da "Internet Industrial" — significa que os objetos
poderão monitorar seu próprio uso e tempo de funcionamento.
Caso seu celular percebe que irá "morrer"
em breve, ele pode entrar em contato com a fábrica, que poderá alterar seu
ritmo de produção segundo os dados enviados pelos produtos lá produzidos.
Quando seu celular bater as botas, já haverá outro esperando por você, o que
significa que os dias das encomendas pela internet estão contados.
Além disso, à medida que esse processo se tornar
mais sofisticado e integrado, seu celular irá ser entregue com a exata
formatação do seu falecido celular.
Esse processo não se limita aos celulares e outros
eletrônicos mais sofisticados. Tudo, de roupas sob medida à shampoos e
sabonetes personalizados, estará disponível para os consumidores, sem o custo
adicional que costuma acompanhar esses produtos especiais. Os produtos irão ser
realmente personalizados — nada de escolher uma das cores pré-determinadas para
seu celular e falar que o produto foi feito especialmente para você.
As máquinas de várias empresas,
como BMW e a Bayer, são produzidas por linhas de produção quase que
inteiramente automatizadas
Além do mais, a crescente integração entre fábricas
inteligentes e infraestruturas industriais poderia resultar em uma grande
redução do gasto energético. Como o grupo de pesquisa da Indústria 4.0 afirma
em um dos seus relatórios, muitas fábricas gastam enormes quantidades de
energia durante as pausas na produção, que ocorrem em fins-de-semana e
feriados, algo que poderia ser evitado com o advento das fábricas inteligentes.
De acordo com os defensores desse novo método de
produção integrada, a Indústria 4.0 pode mudar a forma como vemos o trabalho.
Visto que uma máquina pode executar tarefas repetitivas com muito mais
eficiência do que um trabalhador humano, essas funções estão fadadas à
automatização. Mas ao invés de tirar o emprego desses trabalhadores, isso
supostamente irá permitir que eles executem trabalhos mais criativos,
salvando-os desses serviços repetitivos. Além disso, conforme os sistemas
físicos são digitalizados, os trabalhadores irão ter que passar menos tempo em
seus locais de trabalho — no futuro, um gerente poderá supervisionar sua
fábrica pela internet.
OS NOVOS GIGANTES DA
INDÚSTRIA? OS MESMOS GIGANTES DA INDÚSTRIA
Aqueles que mais se beneficiarão com a quarta
revolução industrial, empresas como a Cisco, a Siemens e a ThyssenKrupp,
afirmam que a implementação da CPS atende à uma demanda popular, e não à agenda
das grandes corporações.
Mas apesar de toda essa retórica, uma pesquisa mais
cuidadosa revela que o principal impulso por trás da inovadora industrialização
da Alemanha não é a satisfação do consumidor, mas sim os benefícios para as
multinacionais que planejam adotar esses avanços.
A quarta revolução industrial promete colocar a
Alemanha na proa da reestruturação industrial. Como o grupo de pesquisa escreve
em seu relatório, é possível que a existência da manufatura alemã dependa da
Indústria 4.0. “Se a indústria alemã quiser sobreviver e prosperar, ela precisa
ter um papel ativo na quarta revolução industrial", diz o relatório.
A indústria alemã irá investir, anualmente, €40
bilhões na infraestrutura da Internet Industrial até o ano de 2020, de acordo
com um relatório da
empresa de consultoria Strategy&. Isso representa uma boa parcela do investimento
total da Europa, que será de €140 bilhões por ano. Devido à imprevisibilidade
dos prazos e da metodologia de implementação, além da necessidade de
tecnologias mais avançadas, não se sabe o quanto a Alemanha se beneficiará com
o crescimento dessas fábricas inteligentes.
De acordo com o relatório da Indústria 4.0, entre
as 278 empresas pesquisadas (a maioria dos setores de manufatura e maquinário),
131 afirmaram já estar "envolvidas” com a Indústria 4.0.”
O envolvimento da maioria dessas empresas se limita
à “aprender" sobre a quarta revolução industrial. Apenas um quinto dessas
empresas implantaram componenentes CPS em suas fábricas. Entre as empresas que
participam ativamente da nova revolução industrial estão a Wittenstein (motores
elétricos), a Bosch (equipamento hidráulico), e a BASF SE, pioneira em shampoos
e sabonetes personalizados. As três empresas trabalham em parceria com o Centro
de Pesquisa de Inteligência Artificial da Alemanha para comprovar a viabilidade
da Indústria 4.0.
Um importante adepto é a Siemens AG, a maior
empresa de engenharia da Europa, que utiliza seus componentes CPS de forma
muito criativa em sua fábrica de Amberg. Lá, máquinas automatizadas
encomendadas por outras empresas, como a BMW e a Bayer, são produzidas por
máquinas que são, por sua vez, quase completamente automatizadas.
OBSTÁCULOS E DIFICULDADES
Entretanto, existem outros empecilhos, tanto do
ponto de vista técnico quanto social, no caminho até a revolução.
Maximizar as vantagens da quarta revolução
industrial irá exigir uma grande cooperação entre os diferentes níveis da
cadeia corporativa, especialmente para se assegurar de que as máquinas falem a
mesma língua. Se um produto não-concluído chegar em uma máquina incapaz de ler
seu chip RFID porque ele foi programado em uma frequência diferente, o processo
de manufatura poderia ser paralisado. Assim, determinar as plataformas e
linguagens universais que permitam que as máquinas dialoguem, independente das
fronteiras corporativas, é um dos principais obstáculos para a adoção universal
dos sistemas ciber-físicos.
Por outro lado, a homogeneidade também pode ser um
problema. O Google, por exemplo, controla 97% das buscas online da
Alemanha, e alguns líderes do governo estão preocupados com a possibilidade de
um pequeno grupo de empresas monopolizar o mercado da Indústria 4.0.
"O big data necessário para o
funcionamento da Indústria 4.0 não está sendo coletado por empresas alemãs, mas
sim por quatro grandes empresas do Vale do Silício", disse o Ministro de
Economia da Alemanha, Sigmar Gabriel, durante um debate com o Presidente do
Google, Eric Schmidt, no ano passado. “Essa é a nossa preocupação."
Outro problema é a segurança: criar redes mais
seguras é trabalhoso, e integrar sistemas físicos à internet deixa-os mais
vulneráveis a ciberataques. Nos dias pré-internet, os rebeldes destruíam as
estruturas físicas das fábricas (como os notórios Luditas). Com a ascensão da
Indústria 4.0, os processos produtivos podem ser atacados remotamente, seja pela
manipulação do protocolo do produto ou com a paralisação do processo de
produção. Como aponta o Instituto Fraunhofer, uma organização de pesquisa
alemã, já existe um malware criado especialmente para
destruir sistemas de produção ciber-físicos. Com o crescimento das fábricas
inteligentes, descobrir novas formas de garantir a cibersegurança e ainda assim
usufruir dos benefícios do CPS (como a comunicação automática entre máquinas)
se tornará a maior prioridade dessas empresas.
E PARA ONDE VÃO OS
EMPREGOS?
Do lado social das coisas, os círculos futuristas
vem discutindo a crescente redundância da mão de obra humana e as
consequências da proliferação das máquinas, um medo potencializado pela
promessa de uma quarta revolução industrial. Esse medo tem muito fundamento,
considerando que algumas previsões estimam que em duas décadas 47% dos
empregos serão automatizados, o que deixará milhões de trabalhadores
desempregados.
Entretanto, a troca de mão de obra humana
por máquinas é mais característica da terceira revolução industrial, que
provocou um enorme aumento no maquinário automatizado. O objetivo da quarta
revolução industrial é fazer com que essas máquinas se comuniquem sem
interferência humana. Um exemplo é a fábrica da Siemens, que ainda emprega mais
de 1.000 pessoas, em sua maioria funcionário encarregados de monitorar as
máquinas e computadores.
A maior preocupação é que a Indústria 4.0 permita
que as empresas aumentem sua produção sem necessariamente criar novos empregos,
algo que poderia ser um grande problema nessa época de crescimento populacional.
A troca de mão de obra
humana por máquinas foi uma característica da terceira revolução industrial. O
objetivo da quarta revolução industrial é fazer com que essa máquina se
comuniquem sem interferência humana
Essa tendência poderia prejudicar os países em
desenvolvimento. Não é de se surpreender que um dos principais estímulos por
trás da quarta revolução industrial seja o desejo de competir com a produção
terceirizada de países em desenvolvimento (essa não é uma preocupação tão
grande na Alemanha quanto em outros países ocidentais, é claro). Essa implementação de
sistemas ciber-físicos nos países ocidentais poderia reverter o fluxo de
deslocamento da mão de obra, prejudicando as economias emergentes que
dependem desses serviços de manufatura. Isso é apenas uma teoria, já
que existem poucas pesquisas sobre as possíveis consequências da implementação
da Indústria 4.0 no mundo ocidental.
Não importam as promessas de uma maior produção de
bens de consumo, de uma mão de obra livre, de bilhões de dólares
impulsionando a economia: no final das contas, alguém vai ter que pagar por
esse avanço Se a mão de obra humana continuar a ser substituída por
máquinas, o número de produtos sendo manufaturados não importará, pois não
haverá ninguém para comprá-los. Talvez a quarta revolução industrial irá mudar
o mercado de trabalho, como afirmam muitos de seus defensores: de trabalhos
chatos e repetitivos para funções mais criativas. Ou talvez nós acabaremos nos
matando por um pouco de dinheiro, alimentando fábricas com bicicletas elétricas
como no episódio de Black Mirror entitulado “Fifteen Million Merits”.
No entanto, temos uma certeza: a Indústria 4.0 está
para nascer, e tudo indica que nós iremos mergulhar numa era inteligente, na
qual todos os objetos se comunicarão constantemente, supostamente para nos
servir. Esse futuro pode parecer um pouco barulhento, mas não se preocupe — as
máquinas falam baixinho, via wireless.
Tradução:
Ananda Pieratti
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