Está acontecendo: cientistas criaram um embrião humano geneticamente
modificado
Jul 28
2017, 5:26pm
retirado de Motherboard
E
agora?
·
Pesquisadores de Portland, no
estado de Oregon, nos Estados Unidos, utilizaram o CRISPR, uma ferramenta
poderosa de edição de genes para criar embriões humanos geneticamente
modificados, conforme relatou a MIT
Technology Review, na quarta-feira, com exclusividade. Trata-se do primeiro
caso confirmado de edição genética em embriões humanos nos EUA, aproximando os
cientistas da capacidade de criar seres humanos alterados geneticamente.
Mas antes, um pouco de
contexto. O CRISPR, muitas vezes comparado à função de copiar e colar
dos processadores de texto, é uma técnica de engenharia genética
poderosa e recente, que permite aos cientistas realizar alterações específicas
no DNA de uma planta, animal ou ser humano. Relativamente barata e fácil de ser
utilizada, os cientistas afirmam que podem controlar essa ferramenta poderosa
para curar uma série de doenças, como o HIV e a distrofia muscular.
Entretanto, alguns experimentos levantaram dúvidas -- em 2015, cientistas
chineses a utilizaram para criar cães Beagle extremamente musculosos
-- e especialistas em ética têm alertado para a rápida edição de genes em
humanos. O fato de ser uma ferramenta de fácil utilização deixa muita gente
desconcertada: a comunidade de inteligência norte-americana advertiu em 2016
que a edição de genes é uma potencial arma de destruição em massa.
Além do medo de que a edição
genética levará a um mundo de crianças projetados em laboratório, e a exclusão
de certas características genéticas, o CRISPR é uma novidade, cujas consequências ainda desconhecemos.
Muitos países têm algum tipo
de proibição com relação à edição de genes em embriões humanos, embora as
regulamentações e os pontos de vista estejam aparecendo conforme o uso do
CRISPR aumenta nos laboratórios. Este ano, a Academia Nacional de Ciências dos
EUA afirmou que a edição do DNA de embriões humanos poderá ser permitida a fim
de curar algumas doenças, contanto que com determinadas proteções e condições.
Porém, os cientistas estão
pressionando. Equipes na China editaram embriões humanos ao menos três vezes.
No início do ano, uma equipe chinesa relatou uma inédita: a utilização do
CRISPR para corrigir mutações genéticas
em três embriões humanos normais. (Testes anteriores foram realizados em
embriões do tipo não viável, os quais não poderiam gerar fetos. De acordo com a
Technology review, o experimento norte-americano destruiu os embriões
dentro de alguns dias, pois não havia a intenção de implantá-los.)
Cientistas nos EUA assistiram
aos desenvolvimentos na China "com um misto de admiração, inveja e um
pouco de preocupação", a Technology Review relatou. Aparentemente,
eles estão ansiosos para tentar fazer o mesmo.
Esse último teste de edição
genética foi conduzido por Shoukhrat Mitalipov, da Universidade de Saúde e
Ciências do Oregon, que também estava por trás dos primeiros macacos clonados
em 2007. Mitalipov não quis comentar à Technology Review, e afirmou que os
resultados estão aguardando a publicação em um periódico científico. Mitalipov
também não respondeu imediatamente a um e-mail solicitando comentários para o Motherboard.
A Technology Review não
pôde confirmar em seu relatório quais foram as doenças genéticas visadas no
estudo, apesar de uma fonte ter contado à publicação que "muitas
dezenas" de embriões foram criados a partir de doadores de esperma com
mutações de doenças hereditárias. O experimento norte-americano parece ter
melhorado resultados anteriores da China, onde o CRISPR causou erros de edição
e funcionou inadequadamente, tendo utilizado somente algumas células. Uma fonte
anônima chamou isso de
"princípio de prova" no relatório.
Cientistas que utilizam o
CRISPR têm um argumento muito bom para o seu trabalho -- quem resistiria a uma
tecnologia com o potencial de curar tanto a vida quanto a morte?
Contudo, a ciência não
acontece no vácuo, e mesmo as intenções mais nobres podem nos levar a uma
situação não intencionada. Os experimentos de Mitalipov, entre outros, estão
construindo o caminho para um futuro em que será possível curar diversas
condições terríveis, mas também carregam consigo a possibilidade real de criar
seres humanos "projetados", e programar desigualdades em nosso DNA.
Existem diversas barreiras
legais em lugares como os EUA, as quais evitam a criação de um feto
geneticamente modificado. Porém, isso não se aplica a todos os países. Estamos
nos aprimorando na utilização dessa ferramenta, por isso, não uma questão de
"se" vai acontecer, mas de "quando". Como apontado pela Technology
Review, "a criação de um indivíduo geneticamente modificado poderá ser
feita a qualquer momento".
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