"Mensagem
de esperança"
para
bloguer saudita
Ensaf, que
fugiu com os três filhos para o Canadá, segura cartaz com o rosto do marido,
Raif Badawi, num protesto da Amnistia Internacional
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| EPA/GEORG
HOCHMUTH
Raif
Badawi foi condenado a pena de prisão e mil chibatadas por insultar o Islão
O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz,
apelou ontem à "libertação imediata" do bloguer saudita Raif Badawi
de forma a que este possa receber o prémio Sakharov para a Liberdade de
Pensamento na cerimónia marcada para 16 de dezembro, em Estrasburgo. O ativista
que criou o site Free Saudi Liberals, uma plataforma para o debate político e religioso,
foi condenado em 2014 a 10 anos de prisão e mil chibatadas por insultar o Islão
numa pena que Schulz considera "um ato de tortura brutal".
A mulher de Badawi, Ensaf Haidar, considera que
este prémio é uma "mensagem de esperança e coragem" para o marido.
"Espero que este prémio ajude a fazer avançar a causa de Badawi e permita
que volte para a sua família", afirmou à AFP em Montreal. Haidar fugiu com
os três filhos para o Canadá após receber ameaças de morte.
O anúncio da distinção com o prémio do Parlamento
Europeu é conhecido na mesma semana em que a mulher de Badawi revelou que as
autoridades sauditas vão voltar a aplicar a pena do marido. Preso em 2012 e
condenado no ano passado a mil chibatadas, o bloguer recebeu em janeiro as primeiras
50 num ato público - que foi filmado e partilhado nas redes sociais. As sessões
seguintes (a ideia era que ocorressem ao longo de 20 semanas) foram adiadas por
decisão médica e pressão internacional.
Mas num comunicado publicado no site da Fundação
para a Liberdade Raif Badawi, a mulher do ativista revelou na terça-feira ter
recebido informações de uma fonte - a mesma que a avisou de que as primeiras
chibatadas seriam administradas no início de janeiro - de que a aplicação da
pena continuará atrás dos muros da prisão. "Peço ao Rei Salman para que
acabe a provação do meu marido e o perdoe. Também peço que permita que seja
deportado para o Canadá para que se possa reunir com a família", lia-se no
texto de Haidar.
A presidente da subcomissão de Direitos Humanos no
Parlamento Europeu, Elena Valenciano, disse em comunicado esperar que o prémio
possa também ajudar "de forma indireta" a família do bloguer. O
galardão, que tem o nome do cientista e dissidente soviético Andrei Sakharov e
é entregue desde 1988 a indivíduos ou organizações pelo seu contributo na
defesa dos direitos humanos e democracia, inclui um prémio monetário de 50 mil
euros. No ano passado, o vencedor tinha sido o médico ginecologista congolês
Denis Mukwege, pelo seu trabalho com vítimas de violações.
Reações
"A entrega do Sakharov a Badawi é uma
homenagem a todas as pessoas que lutam pela liberdade de expressão no mundo.
Toda a gente devia ter o direito à sua opinião e a receber e partilhar informações
e ideias sem a interferência das autoridades públicas, independentemente das
fronteiras", disse o eurodeputado Antonio Panzeri, da Aliança Progressista
dos Socialistas e Democratas, que nomeou o bloguer saudita para o prémio.
"Este prémio deve enviar um forte sinal à
Arábia Saudita de que a liberdade de expressão e pensamento é um direito
universal. A Arábia Saudita pode prender o homem e chicoteá-lo, mas vão apenas
reforçar entre os seus compatriotas o desejo de liberdade de expressão e debate
que representa", disse o líder do Grupo dos Reformistas e Conservadores
Europeus, Syed Kamall, que também apoiou Raif Badawi, tal como o Grupo dos
Verdes/Aliança Livre Europeia.
Além do Sakharov, o bloguer já foi também
galardoado com o prémio dos Repórteres Sem Fronteiras para a Liberdade de
Imprensa e o PEN Pinter pela liberdade de expressão.
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