Bilionário
do Vale do Silício quer que todo mundo tenha um corpinho robótico
Escrito por Mark Mann
30 June 2016 // 09:27 PM CET
“'Aqui' é uma palavra
curiosa", diz o discreto bilionário americano Scott Hassan, de 46 anos, o
cara que se tornou famoso ao dizer que, no futuro, todos nós teremos uma
espécie de avatar-robô para nos comunicar.
"Em breve, quando formos
capazes de zapear o mundo em corpos robóticos por meio da internet, 'aqui' já não
significará mais aqui. Aqui será qualquer lugar."
O objetivo do americano até
parece trivial: unir o ciberespaço ao real por meio do projeto Beam.
Ele a projetou como ferramenta para videoconferências para oferecer
uma comunicação face a face instantânea — semelhante ao FaceTime ou Skype, só
que com a possibilidade de controlar remotamente uma tela com pernas pela sala,
com um teclado. As aplicações, porém, aumentaram.
Com o Beam, pessoas com
deficiências físicas poderão ter acesso a um corpo rudimentar que permite a
locomoção em lugares que antes não conseguiam acessar. (O notório Edward
Snowden já usou um Beam em aparições públicas.) Também
poderemos nos transportar para a casa de familiares para uma visitinha,
atravessando o país num piscar de olhos ou, quem sabe, fazer um bate e volta
até Paris ou Hong Kong. Há quem diga que ainda brotarão braços nele, o que
tornará o aparelho ainda mais similar ao corpo humano.
Hassan não confirma os rumores,
mas também não nega.
O Beam, criado pela empresa Suitable Technologies.
Créditos: Intel Free Press/Flickr
Recentemente, quando visitei
minha família em Halifax, no Canadá, eu me beamtransportei para o
escritório de Hassam, em Palo Alto, Califórnia, nos EUA, onde a empresa
Suitable Technologies Inc., fabricante do Beam, está situada. Ele estava
esperando por mim, observando atentamente a câmera do meu Beam. Hassam vive
alerta e atento, e passa uma impressão de gênio sobrecarregado de cafeína:
apresenta ideias generosas, mas espera, ansioso, que os outros se mantenham
sempre a par delas. Ele raramente dá entrevistas, embora seja uma das figuras
mais importantes da robótica moderna.
Hassan foi um dos
primeiros investidores do Google e leva créditos por contribuir com
o código-fonte do site de buscas. Em 2006, depois de uma série de incursões
pelo mundo da alta tecnologia, ele dediciu investir em um laboratório próprio de
pesquisa em robótica, o Willow Garage.
A equipe do laboratório criou
o PR2, um robô humanóide icônico que virou uma plataforma de
pesquisa importante para inteligência artificial. Ano passado, o PR2 ganhou
manchetes por aprender a cozinhar panquecas lendo uma receita
na internet.
O PR2 também é conhecido por fazer café com leite, jogar sinuca e buscar cervejas para os colegas, lavar roupas (ainda que meia-boca), brincar com Lego e limpar cocô de cachorro. Nada mal.
Se conseguíssemos nos beamtransportar
para o corpo de um PR2, seria fascinante
Apesar de todas essas proezas,
Hassan se desiludiu com robôs autônomos: a construção é cara e, embora a inteligência artifical já consiga vencer humanos em
partidas de Go e outras façanhas impressionantes, ainda não chega
perto de pessoas de verdade. “Computadores são fabulosos, mas não são nada
comparados ao cérebro humano”, disse.
Criar um robo capaz de responder
rápido e com precisão a instruções de voz e realizar tarefas simples ainda é
complicado. Para ilustrar essa verdade, ele me pediu para empurrar um cesto de
lixo para baixo da cadeira com o meu Beam, tarefa que só consegui realizar
depois de trombar com a cadeira. “Precisaríamos de centenas de doutores em
ciência da computação, energia elétrica e engenharia mecânica para construir um
sistema capaz de fazer isso”, disse.
“Existem bilhões de pessoas no
planeta, então por que não focamos em realizar essas tarefas com a inteligência
humana em vez de um sistema artificial?,” perguntou.
É fácil visualizar aparelhos como
o Beam com mais apêndices e sensores, e não só rodinhas e câmera. Isso abriria
um leque de possibilidades para trabalhadores além de sassaricar por aí e
conversar à distância. Se conseguíssemos nos beamtransportar para o
corpo de um PR2, seria fascinante.
O robô PR2. Créditos: Jiuguang Wang/Flickr
Por ora, as ações que o Beam
oferece ainda são rudimentares: locomover-se em um espaço plano, sem muitos
obstáculos. A aplicação mais óbvia do aparelho é poder trabalhar de casa: a
equipe da loja Beam de Palo Alto é composta por funcionários que se beamtransportam
dos quatro cantos dos Estados Unidos. Agentes imobiliários fazem tours,
executivos visitam fábricas e pessoas participam de conferências através do Beam, segundo uma matéria da revista Time.
Para pessoas com deficiências, o
acesso a um corpo Beam pode ser transformador. Henry Evans, engenheiro e palestrante
tetraplégico, usa o Beam como aparelho de auxílio para ir a lugares que antes
não conseguia acessar. Hassan espera que a Lei dos Americanos Portadores de
Deficiências ainda inclua uma norma que torne o Beam uma ferramenta de
acessibilidade obrigatória em prédios públicos, como rampas para cadeiras de
rodas.
Outro propósito é o teleturismo.
“Queremos colocar todo mundo em lugares legais ao redor do mundo e permitir que
caminhem por aí em Beams”, ele me contou. Imagine só ativar um Beam nas
pirâmides, em Machu Picchu ou no Taj Mahal do conforto do seu quarto.
Mas ele também acha que, se esse
sonho se concretizar, não fará com que as pessoas parem de viajar na vida real.
A verdade é que, não importa o quanto melhore, o beamtransporte jamais
será tão bom quanto a experiência em primeira mão.
Um dia, quem sabe, poderemos até
nos beamtransportar para uma estação espacial em órbita ao redor da
Terra. Se “aqui” é qualquer lugar, por que não "lá"?
Tradução: Stephanie Fernandes
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