quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Ate quando vamos sofrer quando nossos filhos resolverem dar uma volta?



Pobre e favelado?
Na minha praia, não!



 Paulo - Brasil bruto, grosseiro, racista e iracivel. Como vamos mudar isto? Onde vamos parar com tamanha tragédia todos os dias?



Publicado há 1 dia - em 23 de setembro de 2015 » Atualizado às 9:11
Categoria » Casos de Racismo · Em Pauta










Gostaria de saber quem é que acha legítimo invadir um ônibus, expulsar os passageiros, espancar alguns deles caracterizando-os como bandidos pelo simples fato de serem pretos, pobre e moradores de favelas da Zona Norte do Rio? Essa pergunta, que voltou a me incomodar neste fim de semana, e quem vem latejando há muito tempo na cabeça, é fruto da tentativa de superação do medo e da imposição de um comportamento que me oprimiu desde a infância. Sentimento que me faz pensar, compreender a lógica da ação e da reação nos conflitos territoriais.

Por Walmyr Junior Do Jornal do Brasil
Questiono-me quando vejo centenas e milhares de jovens como eu tendo seus direitos violados, quando não exterminados. Jovens, negros e favelados que representam os 77% dos jovens assassinados neste país, que são a maior população carcerária, que compõem em grande maioria as fileiras do exército de mão de obras esquecidas pelo Estado.

Sabemos que o racismo está presente no Brasil desde a sua colonização, porém ser negro, pobre e favelado nestas terras se tornou mais difícil do que nunca. Somos diariamente criminalizados por nossa cor e classe social, pagamos sempre com nossa liberdade, quando não com nossas próprias vidas.

Para gerar mais contestação e aumentar o sentimento de revolta vimos cenas de reprodução do ódio e da violência passando nos telejornais e estampadas nos periódicos impressos e tabloides no domingo de sol e de praia neste último 20 de setembro.

A opção pela estigmatização dos já criminalizados jovens da favela reafirma a posição da classe média, branca, heteronormativa da Zona Sul do Rio de Janeiro. Em sua grande maioria, moradores dos bairros de Ipanema, Leblon, Copacabana, e tantos outros deste território, opta pelo fim da ligação entre as zonas Sul e Norte, revelando o já existente apartheid carioca.

Nos bons tempos em que meus pais viveram, podia-se aproveitar a praia de Ramos e a praia da Moreninha. Tempos esses, com a fartura de peixes na Baía de Guanabara, fazia do Complexo da Maré um dos maiores polos de diversão e lazer da Zona Norte. Hoje, com a Baía de Guanabara poluída, tentam nos isolar e iludir com piscinões artificiais e parques com chuveiros e recursos hídricos.

Tudo isso para dar ‘alternativas’ de lazer para a Zona Norte e impedir que esse cidadão vá à Zona Sul ter acesso a lazer, cultura e comodidades oferecidas somente ao povo na Zona Sul. Atreladas a esse projeto de isolamento social estão a redução e extinção das linhas de ônibus que ligam o subúrbio à praia, revelando o interesse das políticas de transporte da Cidade.

Enfim, como o militante político Bernardo Cotrim recentemente escreveu em suas redes sociais, “a metrópole dos megaeventos segue a marcha de confinamento dos seus pobres, a classe média racista, ignorante e egoísta clama por mais chibata (redução da maioridade penal, linchamentos, polícia que esfola antes de prender) e o ciclo de exclusão se reforça.  Não reclamem quando os rolezinhos e arrastões virarem algo parecido com as riots que literalmente botaram fogo em Londres. Ninguém apanha calado a vida inteira”.

* Walmyr Júnior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor e representante do Coletivo Enegrecer como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Música das bases, orgulho do pais.



Samba como crônica social











IVAN VILELA | ED. 229 | MARÇO 2015

É sabido que o samba foi, e ainda é, o ritmo mais gravado no Brasil ao longo dos tempos. Contribuíram para isso o seu surgimento no Rio de Janeiro, então capital federal, e também o empenho do governo Getúlio Vargas na valorização de uma cultura urbana utilizando o rádio como artifício de difusão de suas ideologias. Soma-se a estes a permeabilidade musical desse ritmo que soube dialogar com outras músicas de origem afro-americanas como a dos Estados Unidos e com os diversos ritmos caribenhos que aportaram no Brasil no período da Segunda Grande Guerra.
O livro Abençoado & danado do samba, de Ricardo Azevedo, editado pela Edusp, busca um novo recorte na leitura da música popular. Primeiramente por não desprezar a importância que a cultura popular desempenha na estruturação da música popular brasileira, fato quase nunca relevado pelos estudiosos do segmento. Segundo, por se restringir à sua área de conhecimento, a literatura, não caindo no descuido de falar sobre a música sem ter conhecimentos específicos para tal. É uma pesquisa de vulto a que resultou neste livro; um doutorado realizado na área de Análise do Discurso, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

Ricardo Azevedo é profundo e honesto em suas indagações. Honesto por reconhecer, aceitar e se devotar à força de um segmento sociocultural que certamente não é o de sua origem e por dar a suas análises um tom de empirismo que acaba por autenticar o seu posicionamento junto à cultura popular. Com uma escrita clara e tom coloquial, o autor consegue estabelecer um diálogo com diversas áreas do conhecimento para criar uma nova maneira de se olhar para o samba. Trata-se de um grande estudo da cultura popular manifesto na MPB pela via do samba.
Após levantar uma rápida história da música brasileira sob a visão de diversos autores, é mostrado como se deu a construção de duas diferentes percepções de mundo a partir de um pensamento escrito, chamado por ele de hegemônico, moderno e escolarizado e de um pensamento oral, nomeado consciência popular. Neste último reside, em grande parte, o repertório de samba. No cerne de suas análises impera um olhar antropológico que certamente ajuda na desconstrução dos discursos evolucionistas e/ou deterministas feitos sobre a música popular ao longo dos anos.

A partir de minuciosa análise de um vastíssimo repertório mostra como o samba constitui, em parte, uma manifestação em prol da manutenção de um modelo popular de valores e vida. Suas pesquisas acabam por identificar a permanência de conceitos recorrentes no discurso popular como a solidariedade, a religiosidade, o respeito à hierarquia, a estrutura familiar, o uso da sabedoria popular expressa por ditados e ideias perpetuadas boca a boca e a ideia de grupo, de coletividade.
Pequenas adaptações da tese para o livro seriam positivas. As diversas leituras sobre a cultura popular feitas por pesquisadores como Havelock, Olson, Zumthor, Goody e Ong poderiam ser resumidas com palavras do próprio autor. Extensas notas de rodapé poderiam também ser, na medida do possível, incorporadas ao texto.
O fato é que com este livro o samba cresce em importância ao olhar de todos realizando não só a função de cronista das realidades vividas por seus agentes, mas a de tornar-se, na visão de Ricardo Azevedo, um elemento de coesão e manutenção de valores que se dissipam atualmente pelas vias do consumo e de uma monocultura imposta pela mídia.
E sem medo se posiciona: “O discurso do samba é popular porque consegue tratar de temas humanos complexos por meio de uma linguagem pública e acessível, de forma a gerar identificação ou pelo menos sintonia em pretos, brancos, amarelos e mestiços; pobres e ricos; universitários e analfabetos; ateus e crentes; patrões e empregados; técnicos especialistas e paus pra toda obra; professores e alunos; crianças e adultos; modernos e tradicionais, em suma, em simplesmente todas as pessoas.
Desprezar ou dar-se o luxo de desconhecer as características de um discurso com tamanha envergadura e poder de penetração é inacreditável veleidade, preconceito e alienação. Certamente, em nada contribuirá nem para a compreensão da arte popular, nem da arte moderna e erudita, nem para a construção, no Brasil, de qualquer coisa que possa ser chamada de civilizada”.
Ivan Vilela é professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo e autor de Cantando a própria história – música caipira e enraizamento(Edusp, 2013).

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Como o Brasil tenta escancara seu racismo

O Movimento Baiano
Reaja ou Será Morto
Está na Linha de Frente
na Luta Contra o Racismo





Tremi o coração, chorei ao rever e lembrar tantos que já se foram destruídos pelo preconceito e intolerância... Estou escrevendo SOB MONTANHAS, 20 relatos de negros mortos por forças policiais, pelo alcoolismo e sofrimento em Belo Horizonte. É terrível. Agora a esperança da dá de ver este movimento com dez anos de vida...(Paulo)












Setembro, 3
Fotos por FERNANDO GOMES
Todas as fotos são do autor.
Assim como em outros estados do Brasil, na Bahia, negros e pobres são os que mais figuram entre os assassinados e agredidos pela PM. Formado por parte dos inconformados com essa realidade, o Reaja ou Será Morto é um movimento que, há dez anos, tem batido de frente com o racismo permitido pelo Estado. Trata-se de uma articulação de movimentos e comunidades da capital e do interior da Bahia lutando contra a violência policial e a favor tanto da causa antiprisional como da reparação aos familiares de vítimas do Estado e de grupos de extermínio. Uma das ações articuladas pelo Reaja é a Marcha Internacional Contra o Genocídio do Povo Negro, que teve sua terceira edição realizada no dia 24 de agosto nas ruas do centro de Salvador. No mesmo asfalto em que brasileiros e gringos dançam e se divertem no carnaval, milhares de militantes marcharam por algumas horas numa postura de enfrentamento ao poder público e de gritos por justiça e pelo fim da PM.





A marcha teve início na região em frente ao Quartel dos Aflitos, uma das principais bases da Polícia Militar baiana, e seguiu até o prédio da Secretaria de Segurança Pública, na Piedade. "O percurso também fez parte de nosso grito. Esse é o mais antigo quartel da Policia Militar do Brasil, e a Praça da Piedade é onde os heróis da Revolta dos Búzios (luta baiana de caráter abolicionista realizada em 1798) foram executados", afirmou Daniele Mascarenhas, integrante do Reaja, em conversa com a VICE. Durante a manifestação, gente de outros estados e países juntava-se aos baianos com gritos e cartazes que lembravam fatos como a recente chacina no bairro do Cabula, em Salvador, na qual treze jovens foram mortos pela PM baiana. Segundo o inquérito da polícia, houve confronto; porém, a versão foi contestada pela denúncia do Ministério Público, que trata o caso como "execução" e chama atenção para a quantidade e direção dos disparos feitos pelos policiais – as vítimas estavam ajoelhadas ou deitadas e foram encontradas com marcas de agressão. Numa rapidez incomum em se tratando de justiça brasileira, os nove policiais acusados foram absolvidos pela juíza Marivalda Almeida Moutinho.

De acordo com pesquisa divulgada pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais em parceria com a Unesco, no Brasil, das 39 mil vítimas de disparo de arma de fogo em 2012, 28 mil eram negros. Parte dos presentes na marcha era composta por mães, familiares e amigos de alguns dos mortos em casos como esses. O Reaja tem lutado para não deixar a chacina do Cabula cair no esquecimento. "Para nós, isso foi um recado de intimidação, foi um aviso do governo Rui Costa a todo povo negro, a materialização do que é a Segurança Pública desse país: uma máquina de moer gente preta. Infelizmente, isso não é novidade. Gritamos isso desde 2005, e outros e outras gritaram sobre isso antes de nós. Falamos sobre o baralho do crime, uma ferramenta altamente racista utilizada pela polícia baiana para caçar pretos, falamos sobre o Pacto pela Vida e suas 'Bases Comunitárias de Segurança', que militarizam e violentam os bairros onde a população é majoritariamente negra", reforça Daniele. Na manhã que antecedeu a marcha, o grupo de militantes ainda foi ao local onde os mortos foram encontrados, um campo de terra batida numa comunidade do Cabula, para prestar homenagem a eles com a instalação de um memorial. "Estávamos lá sob as lágrimas e os testemunhos de mães, avós e irmãs. Na Bahia, acontece assim: se morre um preto ou treze, é 'Olho viu, boca piu'. A Campanha Reaja quebrou e vem quebrando esse silêncio racista que nosso Estado injeta nas pilhas de cadáveres pretos que o Estado executa. Nossos mortos têm nome, nós sabemos [os nomes] e os carregamos por onde andamos."






Durante os dois dias que antecederam a manifestação nas ruas, o Reaja promoveu ainda o 1º Encontro de Formação e Organização Pan-africanista. Autonomia, autogestão e Pan-africanismo (ideologia que prega a união dos povos africanos como um só povo) são as bases principais do movimento, tendo as mães e mulheres aliadas em geral como comando vital. "É isso que pauta nossos princípios. Não somos ativistas, somos militantes, pois não falamos nem lutamos por algo externo – estamos em luta pela nossa própria vida", enfatiza Daniele.







Durante todo o percurso da marcha, não havia muito espaço para sorrisos, danças ou qualquer tipo de festividade – o momento ali era de combate, punhos cerrados, roupas pretas e negros se protegendo com métodos de organização dos Panteras Negras. Muitas vezes, se ouvia gritos de "Feche a cara", expressão recorrente na Bahia que chamava atenção para a seriedade e respeito com que a marcha devia ser encarada. Daniele Mascarenhas explica: "A marcha não é o começo nem o fim de um ciclo, é o momento em que nosso movimento sai do subterrâneo, das favelas, cadeias, becos e toma as ruas, junto com os nossos mortos. O Reaja surgiu para fazer uma articulação entre nossas comunidades e os movimentos sociais negros para politizar nossas mortes, colocar em evidência a brutalidade policial, a seletividade do sistema de justiça criminal que nos têm como bandidos-padrão. Este mesmo Estado genocida vê na cor de nossa pele, nossa condição econômica e de moradia, nossa herança ancestral e pertencimento racial, as etiquetas de 'inimigos a serem combatidos'".

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Nossas lágrimas tardias

REFUGIADOS











Lutei para não escrever esta matéria. A recorrência daquela imagem terrível do garoto afogado na praia, morto, me persegue. Não consigo mais lembrar de tantas imagens que esta minha vida me entregou, imagens que jamais pude ver e que insistiram em mim afrontar  madrugadas adentro.

Quando criança vi de perto crianças famintas. Engolindo ovo, coxa de frango quando aparecia. Mas eram crianças famintas, desnutridas. Quando menino vi outros meninos sofrendo torturas, comendo lixo, se prostituindo.

Vi o drama dos refugiados desde sempre. Mas agora esta demais. Não quero ser recorrente ou usar frases de efeito mas a humanidade esta perdendo seu senso de amor ao próximo. Como chegamos a isto, em plena Europa civilizada e guardiã da cultura ocidental?

Aylan Kurdi não pode ser o símbolo desta resistência. Ele morreu tentando algo novo numa travessia. Não temeu quando seus pais o colocou num bote em pleno mar Egeu. Com suas ondas e seu gigantismo histórico, teve que  morrer afogado ali, próximo a Europa salvadora.

A imagem do Aylan ali, inerte, largado, morto é um soco no estomago de todos nós. De nos que ainda resistíamos em ver crianças africanas sendo largadas em praias da Lampedusa, em travessias terríveis no Gibraltar ou ainda ignorar as mesmas crianças, só que negras, mortas e largadas em pleno mar Mediterrâneo mais terrível que o egeu se é que podemos classificar os mares quanto a sua impiedosa força e tamanho.

Crianças são crianças, apenas isto, crianças. E pagam por nós e nossa loucura, agora adultos que já foram crianças também.

A curvatura do corpo do policial é dolorosa de se ver. Sua expressão mais parece um esgar silencioso e muito dolorido. Carregar um pequenino nos braços e mãos assim, diante de tanto sofrimento deve ser horrível.

Não conhecia Aylan. Conheço a sanha inconsequente de Bashar al-Assad e a contenção interesseira da China e da Rússia ao impedir qualquer ação do ocidente em terras sírias. A tristeza e as mortes só fazem aumentar. A saída dos sírios de sua terra, abrem espaço para grupos duros, como o Estado Islâmico.

Como a civilizada e branca Europa vai se virar. Seria o refluxo dos povos desprezados ou antes dominados por sua retorica e poderio bélico? Esta ondas migratórias estão retomando um território ou lançam as bases de um continente mais diverso e inclusivo?

Não estamos sós no mundo, vivemos em grupo e somos uma só raça, a raça humana. A mesma fome, a mesma dor, a mesmíssima morte.


Com este menino morrem todos os meninos do mundo, se não reagirmos a tempo. Se não nos devolvermos o élan que nos faz humanos. Lágrimas, lastimáveis.