Pobre e
favelado?
Na minha
praia, não!
Paulo - Brasil bruto, grosseiro, racista e iracivel. Como vamos mudar isto? Onde vamos parar com tamanha tragédia todos os dias?
Publicado
há 1 dia - em 23 de setembro de 2015 » Atualizado às 9:11
Categoria » Casos de Racismo · Em Pauta
Categoria » Casos de Racismo · Em Pauta
Gostaria de
saber quem é que acha legítimo invadir um ônibus, expulsar os passageiros,
espancar alguns deles caracterizando-os como bandidos pelo simples fato de
serem pretos, pobre e moradores de favelas da Zona Norte do Rio? Essa pergunta,
que voltou a me incomodar neste fim de semana, e quem vem latejando há muito
tempo na cabeça, é fruto da tentativa de superação do medo e da imposição de um
comportamento que me oprimiu desde a infância. Sentimento que me faz pensar, compreender
a lógica da ação e da reação nos conflitos territoriais.
Por Walmyr
Junior Do Jornal do Brasil
Questiono-me
quando vejo centenas e milhares de jovens como eu tendo seus direitos violados,
quando não exterminados. Jovens, negros e favelados que representam os 77% dos
jovens assassinados neste país, que são a maior população carcerária, que
compõem em grande maioria as fileiras do exército de mão de obras esquecidas
pelo Estado.
Sabemos que
o racismo está presente no Brasil desde a sua colonização, porém ser negro,
pobre e favelado nestas terras se tornou mais difícil do que nunca. Somos diariamente
criminalizados por nossa cor e classe social, pagamos sempre com nossa
liberdade, quando não com nossas próprias vidas.
Para gerar
mais contestação e aumentar o sentimento de revolta vimos cenas de reprodução
do ódio e da violência passando nos telejornais e estampadas nos periódicos
impressos e tabloides no domingo de sol e de praia neste último 20 de setembro.
A opção pela
estigmatização dos já criminalizados jovens da favela reafirma a posição da
classe média, branca, heteronormativa da Zona Sul do Rio de Janeiro. Em sua
grande maioria, moradores dos bairros de Ipanema, Leblon, Copacabana, e tantos
outros deste território, opta pelo fim da ligação entre as zonas Sul e Norte,
revelando o já existente apartheid carioca.
Nos bons
tempos em que meus pais viveram, podia-se aproveitar a praia de Ramos e a praia
da Moreninha. Tempos esses, com a fartura de peixes na Baía de Guanabara, fazia
do Complexo da Maré um dos maiores polos de diversão e lazer da Zona Norte.
Hoje, com a Baía de Guanabara poluída, tentam nos isolar e iludir com piscinões
artificiais e parques com chuveiros e recursos hídricos.
Tudo isso
para dar ‘alternativas’ de lazer para a Zona Norte e impedir que esse cidadão
vá à Zona Sul ter acesso a lazer, cultura e comodidades oferecidas somente ao
povo na Zona Sul. Atreladas a esse projeto de isolamento social estão a redução
e extinção das linhas de ônibus que ligam o subúrbio à praia, revelando o
interesse das políticas de transporte da Cidade.
Enfim, como
o militante político Bernardo Cotrim recentemente escreveu em suas redes
sociais, “a metrópole dos megaeventos segue a marcha de confinamento dos seus
pobres, a classe média racista, ignorante e egoísta clama por mais chibata (redução
da maioridade penal, linchamentos, polícia que esfola antes de prender) e o
ciclo de exclusão se reforça. Não reclamem quando os rolezinhos e
arrastões virarem algo parecido com as riots que literalmente botaram fogo em
Londres. Ninguém apanha calado a vida inteira”.
* Walmyr
Júnior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor
e representante do Coletivo Enegrecer como Conselheiro Nacional de Juventude
(Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade
civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.
Leia a matéria completa em: Pobre e favelado? Na minha praia, não! - Geledés http://www.geledes.org.br/pobre-e-favelado-na-minha-praia-nao/#ixzz3mhjnv2kA
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