REFUGIADOS
Lutei
para não escrever esta matéria. A recorrência daquela imagem terrível do garoto
afogado na praia, morto, me persegue. Não consigo mais lembrar de tantas
imagens que esta minha vida me entregou, imagens que jamais pude ver e que
insistiram em mim afrontar madrugadas
adentro.
Quando
criança vi de perto crianças famintas. Engolindo ovo, coxa de frango quando
aparecia. Mas eram crianças famintas, desnutridas. Quando menino vi outros
meninos sofrendo torturas, comendo lixo, se prostituindo.
Vi
o drama dos refugiados desde sempre. Mas agora esta demais. Não quero ser
recorrente ou usar frases de efeito mas a humanidade esta perdendo seu senso de
amor ao próximo. Como chegamos a isto, em plena Europa civilizada e guardiã da
cultura ocidental?
Aylan
Kurdi não pode ser o símbolo desta resistência. Ele morreu tentando algo novo numa
travessia. Não temeu quando seus pais o colocou num bote em pleno mar Egeu. Com
suas ondas e seu gigantismo histórico, teve que
morrer afogado ali, próximo a Europa salvadora.
A
imagem do Aylan ali, inerte, largado, morto é um soco no estomago de todos nós.
De nos que ainda resistíamos em ver crianças africanas sendo largadas em praias
da Lampedusa, em travessias terríveis no Gibraltar ou ainda ignorar as mesmas
crianças, só que negras, mortas e largadas em pleno mar Mediterrâneo mais terrível
que o egeu se é que podemos classificar os mares quanto a sua impiedosa força e
tamanho.
Crianças
são crianças, apenas isto, crianças. E pagam por nós e nossa loucura, agora adultos
que já foram crianças também.
A
curvatura do corpo do policial é dolorosa de se ver. Sua expressão mais parece
um esgar silencioso e muito dolorido. Carregar um pequenino nos braços e mãos assim,
diante de tanto sofrimento deve ser horrível.
Não
conhecia Aylan. Conheço a sanha inconsequente de Bashar al-Assad e a contenção interesseira
da China e da Rússia ao impedir qualquer ação do ocidente em terras sírias. A tristeza
e as mortes só fazem aumentar. A saída dos sírios de sua terra, abrem espaço
para grupos duros, como o Estado Islâmico.
Como
a civilizada e branca Europa vai se virar. Seria o refluxo dos povos desprezados
ou antes dominados por sua retorica e poderio bélico? Esta ondas migratórias estão
retomando um território ou lançam as bases de um continente mais diverso e inclusivo?
Não
estamos sós no mundo, vivemos em grupo e somos uma só raça, a raça humana. A mesma
fome, a mesma dor, a mesmíssima morte.
Com
este menino morrem todos os meninos do mundo, se não reagirmos a tempo. Se não nos
devolvermos o élan que nos faz humanos. Lágrimas, lastimáveis.
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