Como os
robôs e a realidade virtual vão afetar a prostituição e o mundo do sexo
Por Durval Ramos RSS | em 10.02.2016
às 12h08 sexo robôs Enviar por Email http://canalte.ch/S18G9 in Share
Segunda e última parte
Uma ameaça mais próxima
Se os robôs parecem uma ameaça distante e futurista demais, o mercado de
prostituição encara uma ameaça um pouco mais atual: a realidade virtual. Já
falamos diversas vezes como a indústria pornográfica é de vanguarda e de seus
esforços para lançar conteúdos imersivos para que o público aproveite os óculos
para aumentar seus momentos de prazer. É claro que isso não é nenhum tipo de
risco a quem oferece sexo, mas pode ser apenas uma questão de tempo para que as
coisas mudem.
Como dito antes, a previsão de alguns pesquisadores é que a tecnologia
consiga encontrar maneiras de conectar o sistema nervoso humano à própria
internet ou algo muito próximo disso. Assim como "Emanuelle no
Espaço" já previu, essa ligação pode revolucionar a indústria do sexo.
Afinal, se a realidade virtual já vai fazer com que você se sinta dentro
daquele vídeo, esse salto tecnológico adiciona as sensações à equação. E as
sensações são a base do prazer e, portanto, de tudo o que a indústria do sexo
tem a oferecer. Assim, se essa previsão realmente se concretizar, ver um filme
pornô ganha novas dimensões. Mais uma vez, por que gastar dinheiro com
prostituição quando você pode ter toda a experiência de fazer sexo com qualquer
atriz de filmes adultos que você quiser?
O desenvolvimento dessa tecnologia neural ainda está dando seus
primeiros passos e pode ser que demore mais alguns bons anos para que algo
assim aconteça, mas já é possível ver alguns conceitos que caminham nessa
direção. Já há uma série de acessórios sexuais que são conectados à internet e
respondem a estímulos diversos. O Ohmibody, por exemplo, vibra de acordo com o
som emitido pelo computador e a empresa holandesa Kiiroo está criando
equipamentos que simulam o toque de outra pessoa, mesmo que ela esteja a
quilômetros de distância.
Hera e Zeus
E se é possível fazer com que o toque seja transmitido pela rede, levar
isso para filmes não é nenhum grande desafio. Na verdade, pode até ser mais
simples, já que os comandos são pré-definidos e podem ser configurados pelo
criador de conteúdo. Em outras palavras, essa é uma tecnologia que pode se
tornar real muito em breve.
São tantas promessas de mudanças que algumas empresas do ramo do entretenimento
e serviços para adultos já estão preocupadas. O Sheri's Ranch é um tradicional
clube de strip próximo a Las Vegas que já está pensando em como esses novos
conceitos podem afetar seus negócios. Em entrevista ao site CNET, um de seus
porta-vozes diz que se os simuladores de sensações chegarem mesmo à realidade
virtual, isso vai afetar de verdade os negócios.
E não é nenhum exagero, visto que a tecnologia já mexeu no rendimento
desse tipo de estabelecimento outras vezes ao longo das últimas décadas. O CNET
aponta uma pesquisa feita pelo The Kinsey Institute que revelou que 69% dos
homens dos Estados Unidos tiveram a sua primeira experiência sexual com
prostitutas em 1948. Já na década de 90, esse número caiu para menos de 15%. E
a culpada foi a pornografia fácil na internet.
Facebook vs sexo
O acesso simplificado ao mundo pornô fez com que a demanda por
prostitutas caísse drasticamente no país. Afinal, por que um jovem ia se
arriscar para contratar uma cortesã se poderia ver uma mulher nua por muito
menos dinheiro e sem correr o risco de ser descoberto por seus pais? Não por
acaso, o estado americano de Nevada, onde a prostituição é legalizada, viu
quase metade de todos os seus bordéis fecharem as portas ao longo dos últimos
20 anos. Assim, de uma das capitais do sexo nos EUA, o estado passou a ter
apenas 17 estabelecimentos do gênero.
Ainda assim, há quem não veja problema nesse fantasma brochante da
tecnologia. Uma das responsáveis pelo Sheri's Ranch, identificada apenas como
Dena, diz que os negócios vão muito bem no clube e que, em 2015, o faturamento
foi o melhor da última década. E, mais do que isso, ela diz não acreditar que
as pessoas vão preferir um par de óculos a um belo par de pernas e todas as
sensações únicas que o sexo de verdade oferece. "Pelo menos por
agora", ressalta.
E nem mesmo as próprias prostitutas parecem se preocupar com isso.
Segundo Alissa, uma das garotas do Sheri's Ranch, ela não se sente ameaçada
pela realidade virtual e nem por esses simuladores de sensações. Para ela, a
tecnologia ainda pode ser alvo de muitos problemas e depende de energia para
funcionar. Afinal, o que fazer quando você estiver na vontade e não tiver uma
conexão ou uma tomada por perto? Bem, talvez ela ou uma colega de profissão
estejam ali por perto para lembrá-lo de que o mundo offline ainda existe e que
dificilmente vai ser substituído.
Robôs e pedofilia
Voltando aos robôs, a questão trouxe à tona outro debate, desta vez bem
mais delicado. Uma empresa japonesa passou a fabricar bonecas para fins sexuais
com a imagem de crianças. E era óbvio que isso não foi bem visto por ninguém.
Trottla
Segundo a Trottla, responsável pelo produto, a ideia é oferecer uma
réplica ultrarrealista de meninas para que potenciais pedófilos possam
direcionar suas ações ao robô e não à criança de verdade. Para o criador da
proposta, Shin Takagi, essa é uma maneira de fazer com que pessoas que tenham
esse tipo de fetiche expressem isso dentro dos limites da lei.
Por mais que o argumento dele esteja de acordo com o que a Classificação
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) — que descreve
como um transtorno de personalidade e não um crime, algo que é feito pelo
abusador —, não há como negar que se trata de algo de muito mau gosto. Por mais
que Takagi diga que seu produto é para ajudar pessoas doentes a não cometerem
esse tipo de violência, ele logo foi bombardeado por críticas de pessoas que
não veem essa proposta com os mesmos olhos.
Isso não quer dizer que a tecnologia vai legalizar ou tornar a pedofilia
aceitável — não ao menos enquanto violência —, mas esse caso mostra bem o
quanto as coisas tendem a ficar mais delicadas daqui para frente. Não se trata
apenas de oferecer uma nova forma de prazer ou quebrar o mercado de
prostituição, mas de fazer a sociedade repensar o sexo. A pornografia já
quebrou muitos tabus, mas é bem possível que a realidade virtual, simuladores
de sensações e os robôs mudem isso de maneira muito mais radical. E é quase
impossível ficar alheio a isso, queira você ou não.
Via: CNET, The Atlantic, Folha de
São Paulo
http://canaltech.com.br/materia/robo/como-os-robos-e-a-realidade-virtual-vao-afetar-a-prostituicao-e-o-mundo-do-sexo-57609/
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